sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O amor pode (e deve) ser leve

Ela me apresentou uma situação nova. Um querer diferente do que já conhecia. Nos tratamos com um carinho que os que estão a nossa volta admiram e eu acho bonito como a gente realmente é o que aparenta. Outro dia ela estava fofocando sobre a nossa relação com uma amiga em comum, por coincidência passei na frente da janela que dava pra ouvir tudo, parei uns segundinhos pra escutar e tudo o que eu ouvi dela foram coisas que a gente já tinha conversado sobre, nem terminei de ouvir e contei pra ela que eu fiquei na espreita por um momento. Sem segredos. Me enche de orgulho o jeito que a gente se trata e se respeita. As vezes me dói não poder ser para ela tudo o que ela merece, mas frequentemente ela faz eu esquecer os pesos, os obstáculos parecem nem existir quando estamos a sós. Há exposição e entendimento dos medos de ambas as perspectivas. Ela me faz sentir o amor leve. A gente se ajuda e o crescimento é sentido no nosso dia a dia. Um amor com mais certezas ainda que seja o mais cheio de dúvidas. Eu e ela é verdade nua (meu deus obrigada por ela nua) e crua, a relação mais desprovida de idealizações que tive.

Diálogo. Confiança. Cumplicidade. Transparência. Paciência. Verdade.

Tu
O pilar de todos esses gestos que fazem nossa relação tão saudável, a nova concepção de amor, obrigada por tudo e tanto! 

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Impostora

Pai,

tenho sentido medo. Medo que tu descubras um lado meu que até a pouco era desconhecido pra mim também. Tenho sentido culpa pelas vezes em que eu te disse que ia fazer determinadas coisas, mas as intenções eram outras. Fico triste a cada vez que lembro das palavras cheias de desdenho e ódio que tu proferistes contra outros, sem se colocar no lugar destes e sem entender que me feria também.

No entanto pai, meu medo, culpa e tristeza não estão diretamente relacionados com as atitudes que tenho tomado, porque não tenho feito mal a ninguém. Só que me assusta a possibilidade de tu mudares a forma como me vê, com a possibilidade de tu me escorraçares da tua vida e não me achar mais merecedora do teu amparo.

O que eu gostaria que tu entendesses é que o meu caráter continua o mesmo, pai. Continuo sendo uma boa pessoa, honrando a criação que tive e, modéstia à parte, talvez sendo até melhor assimilando os erros que nossa família cometeu e tentando não repetir.

Sabe pai, se não fosse todo o receio que me toma em torno da tua reação e de alguns familiares, talvez agora eu não me sentisse tão falsa e amedrontada a cada passo que dou. Tendo que interpretar um papel que outrora era mesmo eu, mas que agora são fragmentos que já não me cabem.

Se a maior parte de mim não fosse agora toda essa inquietação, eu provavelmente estaria tomada de amor, mas fico constantemente me trazendo para realidade paralela em que absolutamente tudo desanda. Tu já conheceu ela pai, viu o quanto ela é educada, talentosa na cozinha...tu gosta dela, o que me machuca ainda mais, porque não fosse teu preconceito, tudo estaria bem.

Ela me faz feliz, pai. Qualquer momento com ela me enche de paz e diariamente ela me mostra um carinho que nunca havia experimentado igual, o que de certa forma até faz com que eu goste mais de mim. A gente se dá tão bem quando estamos só nós duas no nosso mundinho secreto, protegidas de qualquer julgamento. Só que cansa tanto esconder quando na verdade eu queria ser apenas eu e conseguir retribuir por completo todo o bem que ela me faz.

Enquanto não há nenhuma indicação de que tu estás disposto a rever teus conceitos e a coragem não se torna minha melhor amiga, sigo os dias usando minha máscara preenchida por angústia.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Algodão doce

Tu com teu cabelo curto que cai um pouco sobre teus olhos amarelos, fez florescer em mim partes que eu nem sabia que existiam. Quando teu rosto chegou suficientemente perto do meu, a ponto de quase decorar todas as tuas pintas, eu soube que eu precisava te ter. E eu não podia te querer, nao podia de tantos jeitos diferentes...

Tu fez bagunça em mim. Tirou planos, crenças e desejos da ordem que estabeleci. Quando fui tua pela primeira vez, naquela cama que nem era a minha, tu anulastes todas as minhas experiências passadas. Teu cheiro de algodão doce ficou no travesseiro e gravado em mim. Eu quis me perder em ti cada vez mais, contradizendo toda a minha falta de expectativa e vontade de me somar a alguém. Tu trouxestes aventura, desafio e aprendizado, colorindo meus dias cinzas.

Tantas madrugadas que a gente criou inúmeras possibilidades pro nosso fim que mal teve começo. O medo sempre faz companhia ao que é desconhecido. E ambas sabemos que a probabilidade de não acabar bem são maiores. Não sei onde vamos parar, mas sei que até então não me arrependo de ter feito teu um pedacinho da minha vida.

Não me arrependo porque tu és um dos seres mais maravilhosos que já cruzaram meu caminho. Tu és toda bondade e amparo. Transmite um carinho que as vezes acho nem ser merecedora de tanto. Contigo ao meu lado eu silencio um tanto os preconceitos em volta, porque tu é tão linda sendo tu sem medos, tão admirável que me dá coragem pra buscar meu eu.

Não sei onde vamos parar, mas sei que farei o que estiver ao meu alcance pra ser o melhor que eu possa ser, pra que daqui algum tempo eu não seja uma ferida em ti. Porque pra mim tu serás aquela que só fez florescer.